Você já ouviu falar em Santa Augusta?
Vou contar-lhes um pouco da história dessa querida Santa, venerada em Vittorio Veneto, Itália.
1) A agonia de um império.
Nos fins do século IV e inicio do século V o rei dos visigodos Alarico destruiu todo o Oriente e a Grécia e rumava para Roma, a cidade eterna. Alarico avançou com suas tropas, sem nem ser impedido. Deixando as terras da cidade foi levada a premio para incentivar na batalha.
2) Uma flor.
Matrucco, o pai de Augusta foi o personagem que mais se destacou na dominação comandada por Alarico. Ele ficou encarregado de governar a região de Passos dos Montes, que costeiam os Pré-Alpes. Permaneceu em Serra Valle, onde se instalou em fortalezas sobre o monte Mercantone. Fez de seu domínio grande parte de Vêneto e Friuli, e posteriormente assumiu para si o titulo de Rei.
Corria o ano de 410 e aconteceu algo que encheu a casa de felicidade, o nascimento de uma filha, por mais que ele quisesse um filho homem para continuar o seu reinado. Mesmo assim a filha foi acolhida de bom grado, passando a chamar-se Augusta.
3) Um anjo tutelar.
O Pai sorri pelo fato da filha estar bem, mas essa alegria se transformou em pranto, pois a mãe de Augusta morreu logo após o seu nascimento. A Mãe teve apenas tempo para brevemente contemplar aquele rostinho angelical e acariciar com os lábios, como num beijo de despedida. O pai chorou, restou apenas aquela frágil criancinha, e ainda com lágrimas nos olhos pensou numa companheira para substituir a mãe, e a confiou aos cuidados de Cita. Cita era a governanta do palácio. Católica, Cita ensinou a Augusta tudo sobre Deus, único e verdadeiro. Augusta cresceu num ambiente de amor. Mas a religião do pai de Augusta era aquela que adorava Odin o Deus da vingança e do ódio.
4) Os primeiros passos.
Augusta era bela em suas feições, simples e imaculada em comportamentos e gestos. O pai em suas horas de solidão, via na filha um consolo. Por mais que Augusta estava em meio aos bárbaros visigodos ela não se contaminava.
5) As aspirações de um coração.
Augusta cresceu tanto em idade como em devoção. Seu coração procurava a felicidade e o amor. Seu pai tentava de todas as maneiras torná-la feliz. Mas Augusta sentia-se realmente feliz quando ajudava os pobres e marginalizados, aqueles perseguidos pelo seu pai.
6) O milagre das rosas.
Certo dia Augusta foi levar pão e alimentos aos pobres e marginalizados da cidade, cuidadosamente cobertos por seu vestido. No caminho encontrou seu pai com sua tropa, e ele desconfiou e perguntou o que havia por debaixo da orla do vestido. Ela respondeu: são flores meu pai!. Ele não acreditou, e ordenou à filha que desdobrasse o vestido. Augusta abriu o vestido e caíram rosas das mais variadas cores e perfumes inimagináveis.
7) O batismo.
Na região atrás do monte Mercatone vivia um velho monge cristão de semblante triste, muito magro e macilento que se consagrou à penitência e oração. Cita o conhecia e assim Augusta também o conheceu.
Augusta após conhecer o velho ermitão queria ser batizada e assim o velho ensinou e preparou Augusta para o santo batismo. Chegou o dia do batismo e Augusta se ajoelhou perante o velho e foi ungida com a água benta. Desse dia em diante ela se consagrou a Deus.
8) Suspeitas de Matrucco.
Augusta estava de corpo e alma nos ensinamentos de Deus, seguindo-o fielmente. Matrucco descobre que sua filha foi batizada, mas a perdoa, pois ela ficou feliz e ele nem percebeu que o Deus que ele persegue estava ao seu lado, dentro do palácio. Passado algum tempo, Matrucco desconfiado do comportamento da jovem, mandou um guarda segui-la por todo lado que ia. Um dia Augusta desceu o monte às pressas foi a Igreja e se recolheu em oração, nem percebendo que estava sendo seguida.
9) No cárcere.
Augusta estava tão compenetrada em sua oração e não percebeu a aproximação dos soldados, instantes depois os soldados a abordaram e a levaram-na à presença do Rei, seu pai. O Rei estava fora de si, e não importava o que Augusta falava, ele não podia compreender porque estava condicionado na sua maldade e orgulho, e ordena a sua prisão, num local isolado, na parte mais escura e fria do palácio.
10) O drama íntimo de dois corações.
Bem próximo ao meio dia daquele que seria o marco da vida de Santa Augusta na terra, a ama aparece na cela e disse que o pai estava esperando por ela. No seu aposento Matrucco e Augusta trocaram olhares. Então ele baixou os olhos e com um suspiro quebrou o silêncio e tentou apelar para o lado sentimental da filha tornando a voz mais afetuosa possível. Depois de várias tentativas em vão Matrucco ousou um último apelo, dizendo que Augusta iria morrer se não adorasse Odin, e a convidou a fazer uma oferenda ao Deus, Mas Augusta convicta no seu Deus, o Deus que acreditava e estava disposta a dar sua vida, num gesto heróico de fé e devoção com seus dedos pequenos e frágeis traçou sobre si o sinal da cruz. O pai empalideceu e, sentindo-se humilhado, pensou em se vingar daquele ato de sua filha. Mas Augusta não se rendeu por mais que doesse em seu coração de filha, seu coração de cristã falou mais alto e falou que preferia morrer a trair sua fé.
11) O primeiro sangue, a extração dos dentes.
O pai, doído em seu íntimo pela confissão da filha, ordenou a remoção dos dentes da pequena e frágil criatura. Os dois soldados que foram encarregados da tarefa estavam prontos com o instrumento grosseiro de ferro nas mãos ásperas. Os dois carrascos se aproximaram da figura ajoelhada, e com brutalidade, um a imobilizou, segurando-a pela cabeça e o outro introduziu a torques de forma rude, e arrancou de sua pequena boca, dois dentes alvos, fazendo com que dois fiozinhos de sangue escorressem pela boca manchando seu vestido. Ela não percebe a crueldade, pois está concentrada nos sofrimentos de Jesus na cruz.
12) A prova da fogueira.
O pai desumano, mandou preparar no mato, no meio de duas árvores,uma pilha de lenha seca. A menina foi amarrada entre as duas árvores, e o fogo foi ateado abaixo dela. Porém ela não sentiu a chama queimar. Parecia que as chamas acariciavam seu rosto, pois ela era como os outros Mártires que deram sua vida pelo Deus que defendiam. O povo assistiu a isso espantado ao prodígio. O pai, ao contrário, se mostrava irritado com quem defendia sua filha ,e resignava “que tipo de feitiço ou bruxaria seria essa”, mas mal sabia ele que esse poder era de Deus.
13) A roda dentada.
Matrucco não satisfeito por sua filha sair ilesa do tormento da fogueira, ordenou preparar uma roda dentada com ferros e espadas afiadíssimas. Esse martírio era muito usado entre os povos bárbaros, pois, as espadas provocam dores terríveis e insuportáveis. Os executores amarraram Augusta sem nenhuma delicadeza ou compaixão. O pai assistia a tudo esperando que a filha se arrependesse. Mas isso não aconteceu, pois ela estava serena e um anjo veio em seu auxílio, e com uma espada, num só golpe, partiu a roda ao meio.
14) A prova suprema.
Augusta não se deixou persuadir por nenhuma das provações que foi submetida, restando a ela então a morte.Lá vai a Santa Augusta para o seu cruel destino, sem ter que ser conduzida por ninguém, vai de bom grado, como uma ovelha conduzida ao sacrifício fatal. Ela entregou tudo nas mãos de Deus no qual sua fé era inabalável e já não estava mais como humana, mas já tinha transcendido para o alto. Ajoelhou-se e se pôs a rezar até que o machado do carrasco desceu e com um golpe seco, a cabeça da Santa e angelical menina separou-se do corpo.
O sangue que escorreu da decapitação manchou aquele lugar e o povo o recolheu misturado com terra, e daquele dia em diante, ela já foi proclamada Santa pelo povo cristão que a acompanhava e rezava por ela. E até hoje seu corpo está depositado no túmulo preparado por seu pai no palácio, junto com uma pedra esculpida com a história do seu martírio. Hoje esse local é o “Santuário de Santa Augusta em Serra Valle, Itália”.
Pouco se sabe sobre o destino de seu pai depois do ocorrido, alguns relatos contam que caiu em profundo desconsolo pela crueldade que havia feito com sua própria filha, e viveu em desgraça perambulando pelo palácio a proclamar a inocência de Augusta. Até que um dia, não suportando aquele sentimento de culpa e remorso, voltou para sua terra natal no norte da Europa, esperando o fim de sua vida.